Caetes

1892 palavras 8 páginas
Graciliano Ramos estreia na senda literária com o romance Caetés, lançado em 1933 e narrado na primeira pessoa pelo protagonista, João Valério, psicologicamente caracterizado por seu recolhimento interior e sua tendência ao devaneio. Romântico, ele descobre que está caído de amores pela esposa de Adrião, seu patrão na empresa comercial em que trabalha.
A trama se desenrola em Palmeira dos Índios; nesta pequena cidade de Alagoas, gerida por Graciliano entre 1928 e 1930, o adultério é logo descoberto pelo marido, através de uma carta enviada por um remetente anônimo. Deprimido, Adrião toma uma trágica decisão e dá fim à própria vida. João, consumido pelo remorso, abandona sua amada, mas preserva sua posição de sócio da empresa.
Graciliano escolhe o título de seu livro ao realizar uma analogia metafórica entre o nativo caeté consumindo antropofagicamente o Bispo Sardinha, no século XVII, e o lado selvagem de João Valério ao tragar avidamente, no amor, o adversário Adrião. O próprio protagonista, ao fazer uma auto-análise, se vê como um ser dominado pelos instintos.
O leitor, ao percorrer as páginas deste livro, poderá perceber que o autor, nesta sua primeira tentativa literária, realiza, na verdade, uma intencional preparação para as demais obras, como Vidas Secas e Angústia, mais conhecidas e bem-acabadas. Ele é elaborado com menos esmero, mais rapidez e sem o cuidado com que as publicações posteriores serão agraciadas.
Caetés é como um fruto tardio de uma árvore já consumida pelo tempo, neste caso, o movimento naturalista em seus últimos estertores. É possível encontrar, em seu enredo, ingredientes típicos da literatura realista convencional, não só na forma, mas também no conteúdo.
O escritor retrata, em suas páginas, o dia-a-dia da cidade que, por um breve tempo, administrou. As características mais triviais de sua rotina, nada sublimes e heróicas, são representadas nesta história. Graciliano se preocupa em refletir, na sua obra, as interações sociais que se

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