Cabo anselmo
De líder da guerrilha a espião e delator. O jornalista investigativo Percival de Souza desvenda um dos personagens mais polêmicos da ditadura militar em Eu, cabo Anselmo. As razões, os motivos e a história deste homem são contados em depoimento inédito que revela suas três faces: a de marinheiro rebelde, guerrilheiro e informante da repressão.
José Anselmo dos Santos liderou um movimento entre os marinheiros, considerado um dos estopins do golpe militar de 1964, que tirou João Goulart do governo e mergulhou o país em um longo período de trevas. No livro, Anselmo dá detalhes sobre sua participação nesse movimento; a proximidade com Lamarca e Marighella; o curso de guerrilha em Cuba e o encontro com Fidel Castro; a entrada na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e a missão de montar uma base da guerrilha no nordeste.
Visto como agente infiltrado da CIA, a poderosa agência de informações dos Estados Unidos, Anselmo estava na lista de cassações políticas do AI 1. De terrorista foi transformado pelo delegado Fleury em um espião do DOPS, e infiltrou-se na luta armada para entregar os companheiros à repressão política. Não poupou sequer a própria companheira, Soledad Viedma, grávida de sete meses e executada no Nordeste junto a outros cinco militantes.
Cumprido o papel de traidor, Anselmo submeteu-se a uma cirurgia plástica, financiada pelo próprio aparato repressivo, mudando por completo o seu rosto e identidade. Anselmo saía de cena para nunca mais ser reconhecido.
Discurso
No dia 25 de março de 1964, poucos dias antes do golpe militar que derrubou João Goulart, o presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, fez um veemente discurso durante ato comemorativo do segundo aniversário da entidade. O discurso teve grande repercussão e, para pressionar o comando da Marinha a rever as punições aplicadas contra 12 dirigentes da AMFNB, a entidade resolveu transformar a comemoração em assembléia permanente, na sede do Sindicato