Borges e a Crítica Política
Gláucia Costa de Castro Pimentel
RESUMO
Este pequeno artigo levanta uma questão conceitual associada à imagem e obra do grande escritor argentino Jorge Luis Borges, tido por reacionário. O que se observa, no entanto, é uma visão libertária na contramão dos alinhamentos políticos do começo do século XX, analisada em diálogo com as visões de liberdade de Foucault e Derrida, basicamente. Na tentativa de rever o que se entende por um mal entendido quatro contos são analisados. Os contos Tlön, Uqbar, Orbis
Tertius, O informe de Brodie, O Congresso e A Seita dos Trinta comentam organizações humanas que exemplificam a ironia de Borges sobre a ortodoxia das idéias em três grandes áreas da organização humana em conflito com a Palavra: a formação e controle das nações políticas, a presunção do agrupamento e domínio sobre o conhecimento humano e a religiosidade levada às últimas consequências. Pelos temas fica patente a relevância e atualidade da obra de Borges.
PALAVRAS-CHAVE: Jorge Luis Borges. Literatura e política. Análise de Discurso.
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Jorge Luis Borges foi nomeado, tachado e etiquetado, mas se manteve irredutível a toda e qualquer corrente, quer literária, filosófica ou política. Poucos autores foram tão pouco desvendáveis quanto ele. Sua obra exemplifica uma das máximas de Valéry que diz que “as melhores obras são aquelas que mantém seu segredo por mais longo tempo” 1. De fato, ela não apenas não se dá a conhecer de imediato, quanto não se sujeita a ismos óbvios.
Tendo vivido em um período em que, tanto a Europa quanto a América sofriam da “febre de escolas”, as linhas de ação e criação se renovavam, tanto políticas quanto estéticas, e os engajamentos eram esperados e, mesmo impostos. Vanguardas se sucediam, e às vezes ocorriam concomitantemente. Desde o final do século 19 ao início do século 20 uma avalanche de debates acalorados pelo