bom senso e bom gosto
Constitui um dos documentos mais importantes da polémica literária que ficou conhecida como a QuestãoCoimbrã ou mesmo a Questão do Bom Senso e Bom Gosto, tendo surgido como resposta à carta-posfácio de António Feliciano de Castilho inserta no Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, de outubro de 1865,na qual o autor de Cartas de Eco a Narciso aludia ironicamente às teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga, e na nota posfacial das Odes Modernas, de Antero de Quental (de julho de 1865). Sentindo-se visado, Antero deQuental responde em novembro com o panfleto Bom Senso e Bom Gosto. Carta ao Exmo. Sr. AntónioFeliciano de Castilho, onde qualifica o juízo de Castilho como uma crítica "à independência irreverente deescritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando sóo seu trabalho e a sua consciência", que cometem "essa falta de querer caminhar por si, de dizer e não derepetir, de inventar e não de copiar". Antero define "a bela, a imensa missão do escritor" como "umsacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes,das obras e das palavras", que exige, por um lado, uma alta posição ética, por outro lado, uma totalindependência de pensamento e de carácter. Como consequência, e numa clara alusão a Castilho, Anterorepudia a poesia que cultiva a "palavra" em vez da "ideia"; a poesia decorativa dos "enfeitadores dasninharias luzidias"; a poesia conservadora dos que "preferem imitar a inventar; e a imitar preferem ainda traduzir"; em suma, a poesia que "soa bem, mas não ensina nem eleva". O autor das Odes Modernas preconiza ainda que a literatura portuguesa acompanhe "o pensamento moderno", "as tendências dasciências", "os resultados de trinta anos de crítica", "a nova escola histórica", "a renovação filosófica".