Bocage auto retrato
Manuel Maria Barbosa du Bocage
1765-1805
Poeta pré-romântico português nascido em Setúbal, conhecido pelo seu estilo rebelde e satírico, foi considerado o maior poeta da língua no século XVIII. Filho de um advogado sem recursos e de mãe francesa. Foi preso ao divulgar o poema Carta a Marília (1797), passou meses nas masmorras da Inquisição, de onde saiu para o convento dos oratorianos, onde se curvou às convenções religiosas e morais da época.
Poema
AUTO-RETRATO
Quadras
Quadras
Tercetos
Tercetos
Estrutura
Interna
Bipartida
Estrutura
Interna
Bipartida
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage
Análise do Soneto
Este soneto é composto por 14 versos, disposto em duas quadras e dois tercetos.
Nas duas quadras e no primeiro terceto, o sujeito poético traça o seu auto-retrato, em dois momentos diferentes: A primeira quadra carateriza o seu retrato físico: O sujeito poético é magro, tem olhos azuis e pele morena: “Magro, olhos azuis, carão moreno”, os seus pés são grandes "bem servido de pés", a sua estatura média "meão na altura" e o nariz grande "alto no meio e não pequeno".
Na segunda quadra e no primeiro terceto, traça-se o retrato psicológico do poeta. Este é, inconstante, "Incapaz de assistir num só terreno", irritava-se com grande facilidade, tinha temperamento arrebatado, "Mais propenso ao furor do que à ternura", e era ciumento “De