biogeografia
A “crise da educação” que tanto se discute em nossos dias não é absolutamente nova. A história da educação sempre esteve repleta de períodos cruciais nos quais se tornou evidente que pressupostos e estratégias experimentadas e em aparência confiáveis estavam perdendo contato com a realidade e precisavam ser revistos ou reformados. Parece, no entanto, que a crise atual é diferente das anteriores.
Os desafios do nosso tempo impõem um duro golpe à própria essência da ideia de educação formada ainda nos albores da longa história da civilização. Eles põem em xeque os “invariantes” da ideia pedagógica: suas características constitutivas, que resistiram incólumes a todas as crises do passado, seus pressupostos nunca antes criticados ou examinados, muito menos condenados por terem seguido seu curso e precisarem de substituição.
No mundo líquido moderno, a solidez das coisas, assim como a solidez das relações humanas,vem sendo interpretada como ameaça: qualquer juramento de fidelidade, qualquer compromisso de longo prazo (para não falar nos compromissos intemporais), prenuncia um futuro sobrecarregado de obrigações que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de agarrar no voo as novas e ainda desconhecidas oportunidades que venham a surgir. A perspectiva de assumir pelo resto da vida algo ou uma relação difícil de controlar é pura e simplesmente repugnante e assustadora. Não admira que mesmo as coisas mais desejadas envelheçam depressa, percam seu brilho num piscar de olhos e se transformem, de distintivos de honra, em estigmas de vergonha.
Os editores das revistas de amenidades são craques em sentir o pulso do tempo: informam regularmente os leitores sobre as novas coisas “que você tem de fazer”, sobre “o que você deve possuir”, e lhes oferecem regularmente conselhos sobre o que é out e, portanto, descartável. O nosso mundo lembra cada vez mais a “cidade invisível” de Leônia, descrita por Ítalo Calvino: “Mais