Bilinguismo
Bilingüismo e biculturalismo
Uma análise sobre as narrativas tradicionais na educação dos surdos
Carlos Skliar
Programa de Pós-Graduação em Educação, Núcleo de Investigações em Políticas Educacionais para Surdos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira Trabalho encomendado apresentado na XX Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1997.
Movimentos ideológicos e pedagógicos atuais na educação dos surdos Nas duas últimas décadas produziu-se uma notável transformação tanto na concepção ideológica quanto na organização escolar na educação dos surdos. Das múltiplas contribuições possíveis a essa mudança, a difusão dos modelos denominados bilíngües/biculturais e o aprofundamento das concepções sociais e antropológicas da surdez foram certamente as mais relevantes (Skliar, Massone & Veimberg, 1995). Não obstante, o abandono da ideologia clínica dominante e a aproximação a paradigmas socioculturais não são inteiramente suficientes para sustentar a existência de uma nova visão educacional. São muitas as dificuldades de projetos político-educacionais específicos e muitas as limitações que, ainda hoje, determinam a prática pedagógica cotidiana nas escolas. Naturalmente não se trata de medir quanto a educação dos surdos se distancia dos formatos reeducativos, mas sim de saber quanto se aproxima realmente das concepções culturais e
sociais dos surdos e da surdez. Percebe-se, contudo, concretamente, a necessidade de uma transformação objetiva quanto às atitudes, aos estereótipos e aos imaginários sociais que correspondem ao poder e ao saber clínico/terapêutico; transformação essa que implica toda uma desconstrução das grandes narrativas e dos contrastes binários (Bauman, 1991; Silva, 1995) presentes nessa educação; uma trajetória que implica, também, toda uma revisão sobre questões relacionadas com as identidades, as linguagens e o multiculturalismo dos surdos. Nesse sentido, pode-se definir a existência