bauman
POLÍTICA & TRABALHO
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Revista de Ciências Sociais
o.
n 23 novembro de 2005 - p. 145-152
BAUMAN, Zygmunt. 2005. Vidas desperdiçadas. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Ivan Marcelo Gomes
Felipe Quintão de Almeida
Com profícua produção intelectual desde os anos 1950, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman tem alcançado notoriedade no cenário sociológico brasileiro a partir da década de 1990, devido às várias publicações em português.
Seus escritos dos anos 1960 e 1970, praticamente desconhecidos no Brasil, não podem ser comparados em relevância com os trabalhos do final dos anos 1980 e da década de 1990, boa parte deles já publicados em nosso país, quando o debate entre modernidade e pós-modernidade assume a centralidade até então ocupada pelas celeumas que envolviam a discussão entre capitalismo e socialismo em sua obra. Apesar dessa reordenação meta-teórica em seu pensamento, o que, aliás, rendeu-lhe o título de profeta da pós-modernidade, Bauman ainda mantém no cerne de sua Sociologia da pós-modernidade (ou como ele prefere, Sociologia da modernidade líquida) a preocupação com a liberdade, a igualdade e a emancipação humana numa sociedade que pudéssemos denominar de boa, quer dizer, aquela que, ao medir a qualidade de uma ponte pelo seu pilar mais frágil, obsessivamente se considera como insuficientemente boa, num esforço infindável em busca de justiça social e de uma vida mais moral.
Desde a repentina aparição de seus livros no país, o ecletismo característico de sua escrita sociológica tem despertado a atenção de estudiosos não apenas do campo sociológico, de tal modo que, se não endossamos suas principais teses, já não podemos mais ignorá-las. Na obra aqui resenhada, a versão brasileira do livro Wasted Lives: Modernity and Outcasts, seu foco nos remete a um tema típico da leitura de Bauman, quer dizer, a produção do refugo humano (ou da ambivalência) na modernidade, atravessando suas análises nesse livro as