Barbas

BARBAS
Certa vez, ha muito tempo atrás, fui me olhar no espelho. Não era uma olhada qualquer como quem checa suas roupas antes de sair de casa, ou vê se seus dentes estão limpos depois de alguma refeição. Era uma olhada crítica, uma olhada para tentar entender o quando eu mudei nas férias. Tudo bem que cinco centímetros a mais não é para qualquer um, mas o que é que havia mudado tanto em minha fisionomia a ponto dos familiares pararem pra me observar? Foi aí que vi os primeiros sinais de barba em meu rosto! “BARBA!”, eu gritava. Eu tinha barba! Tinha ganhado aqueles tão inconvenientes pelos que no futuro me tomariam 10 minutos das minhas manhãs numa relação íntima com o barbeador. Era uma emoção tão grande que logo liguei para João, meu amigo, para contar a novidade. Ele não atendeu, e eu nem liguei, estava ocupado com minha nova amiga. Ora, nem todos os garotos da minha idade tinham barba, e isso me fazia especialmente... velho. Mal eu sabia o poder de uma barba no queixo de um menino de um metro e oitenta. Naquela semana, eu, que nunca gostei de sair muito de casa, era o primeiro a entrar no carro para ir ao shopping exibir minha linda barba rala. Eu me sentia especial, me sentia um homem feito. Juro que realmente comecei a notar as pessoas olhando mais para mim, mas hoje em dia repenso nas situações e tenho a leve impressão que era minha mente tumultuada com a novidade “barbal.” Mesmo assim, arranjei uma namorada, novos amigos, novos gostos para livros e cinema, e eu acreditava fielmente que tudo isso era a influência da barba. Num dia qualquer, estava caminhando com João pela rua, e vi de longe uns meninos pequenos jogando bola. E jogavam bem! Para moleques de 9 anos, aquilo eram passes de craque! Eu estava tão hipnotizado pelo jogo que um dos meninos veio andando em minha direção e gritou as terríveis palavras: “Qual é, tio, quer jogar com a gente?”. Aquilo brevemente me matou. Morri por uns 20 segundos e voltei de novo à vida por obra do divino. “TIO?