Aula
AULA
Aula inaugural da cadeira de Semiologia Literária do Colégio de França pronunciada dia 7 de janeiro de 1977
Tradução de
Leyla Perrone-Moisés
Editora Cultrix
São Paulo
Título do original
Leçon
© Éditions du Seuil, 1978
Edição Ano
987654 789
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela
EDITORA CULTRIX LTDA
Rua Dr. Mário Vicente, 374, 04270 São Paulo, SP, fone 63-3141 que se reserva a propriedade desta tradução
Impresso na EDITORA PENSAMENTO
Este volume recolhe o texto da aula inaugural da cadeira de Semiologia Literária lido por Roland Barthes no Colégio de França em 1977. A despeito de sua pequena extensão, trata-se de um dos textos mais intensos e mais radicais do autor. Numa linguagem por sob cuja polidez acadêmica sente-se, constante e latente, uma nota de velada ironia, Barthes denuncia na sua aula inaugural a astuciosa pluralidade do poder, cujo “discurso da arrogância” não é assumido apenas pelos porta-vozes do Sistema, mas se inscreve, protéico e inerradicável, no próprio mecanismo da linguagem. Como “a língua implica uma relação fatal de alienação” na medida que impõe coerções iniludíveis ao falante, Barthes não hesita em chamá-la de fascista, já que “fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”. Para ele, só a literatura pode fazer “ouvir a língua fora do poder”, por ser o lugar de eleição “das forças de liberdade”, quando mais não fosse pelo exercício daquela “função utópica” que ela sempre escolheu exercer.
AULA
Eu deveria começar por interrogar-me acerca das razões que inclinaram o Colégio de França a receber um sujeito incerto, no qual cada atributo é, de certo modo, imediatamente combatido por seu contrário. Pois, se minha carreira foi universitária, não tenho entretanto os títulos que dão geralmente acesso a tal carreira. E se é verdade que, por longo tempo, quis inscrever meu trabalho no campo da ciência, literária, lexicológica ou sociológica, devo