Augusto Boal
O artista, quando o é de verdade, é um apaixonado…
O extremo é a energia que nos move para algo maior, é algo que nos diferencia dos demais. O meio termo é bom, mas são os extremos me atraem. O extremo é paixão que se manifesta em algo que foi feito com o coração, pois só há amor quando há entrega, só existe arte quando há extrema dedicação.
A beleza dos extremos é aquele sorriso de satisfação sem motivo aparente, é aquele trabalho despretensioso que se desliga do relógio, é aquele brilho no olho que se manifesta sem qualquer motivo, mas que encanta a todos que possuem percepção para tal. Tudo aquilo que fazemos sem paixão não passa de um passatempo que se perde nas horas do cotidiano. Como dizia Augusto Boal:
Mas… o que é a Paixão? A Paixão, como a Arte, pode ser definida de muitas maneiras; eu prefiro dizer que a paixão é cada um dos sentimentos extremos dos quais o ser humano é capaz. O amor é o ódio, a busca de um ideal e a solidariedade fraterna, a curiosidade científica e a realização desportiva podem ser paixões, se forem extremos. O artista, quando o é de verdade, é um apaixonado.
É preciso reabilitar a Paixão, restaurar seu sentido primeiro de força vital, danificado pela semântica que faz da palavra grega pathos a origem de paixão e patologia.
Paixão não é sofrimento, não é doença: é vida! A Paixão de Cristo não foram doze quedas, percalços no caminho do Calvário: Paixão era a sua determinação em realizar o desejo do Pai e salvar o ser humano do pecado original.
Quem vos fala não é um religioso: é um apaixonado! Sou um homem apaixonado pelas paixões, e juro que não são elas que causam meu sofrimento: são os obstáculos que entre mim e elas são erguidos.
Não é a paixão de Romeu e Julieta que os faz sofrer e lhes traz a morte: é o ódio voraz entre Montequios e Capuletos, suas famílias latifundiárias, seus sequazes e capangas, que lutam por mais terra e mais poder.
O obstáculo faz sofrer: a paixão vivifica! Foi a paixão de Che