Ateliê
M eyerhold
na contemporaneidade: a l g u m a s rree f l e x õ e s e e s t u d o s d e c a s o
Y edda Chaves
Compreender é sentir o acordo entre o que nós vivemos e o que é dado, entre a intenção e a realização – e o corpo é a nossa âncora no mundo (Merleau-Ponty, 1945, p. 169).
A
idéia de que não existe uma única metodologia de análise dos processos de criação teatral é, sem dúvida, o ponto que pode acionar os novos olhares em direção às práticas contemporâneas do ator. Nesse sentido, seria interessante pensar sobre as implicações ligadas ao percurso artístico-científico realizado pelo diretor russo Vsevolod Meyerhold. Ao nosso ver, tais implicações podem gerar diferentes ressonâncias, no que diz respeito à dramaturgia do performer.
Em 1907, Vsevolod Meyerhold desenvolve um trabalho sobre os “movimentos plásticos”, no rastro de Wagner, Fucks e das artes escultórias. Em 1913, ele privilegia o “desenho do movimento”, a partir de referências prove-
nientes de outras culturas, tais como a Commedia Dell’Arte e os teatros orientais. Um percurso artístico-pedagógico o levou a precisar os aspectos práticos e as incidências conceituais ligadas ao estatuto do “ator-compositor”.1
Enquanto em 1913 existia a vontade de experimentar novas formas, novas técnicas de improvisação, ou verificar a validade, a contemporaneidade de gêneros teatrais antigos, em
1918 a preocupação de Meyerhold era a de proporcionar uma séria preparação profissional para as novas gerações de atores e, principalmente, de criar um novo sistema de educação teatral, o qual deveria ser orgânico e polivalente.
O papel da reabilitação do “corpo que pensa” ou do “pensamento plástico”, como afirma
Nina Velekhova, uma atriz de Meyerhold,2 adquire dimensões que, ainda hoje, permeiam os processos de criação do ator.
As pesquisas que fundamentaram as idéias de Meyerhold atravessam os espaços, deslocando-se entre os “ocidentes” e os