Ascensão e Declínio do Império dos Sentidos
Arthur Arruda Leal Ferreira
No século XVIII, mais exatamente na década de 1730, Christian Wolff (1679-1754) publicou dois grandes volumes em latim que sistematizavam a psicologia da sua época, a Psychologia Rationalis e a Psychologia empirica. Estas duas psicologias partiam de abordagens diferentes: a primeira, de modo mais lógico-conceitual, trabalhava a partir de definições apriorísitcas; a segunda, de modo mais factual baseava-se nas observações da própria alma. Apesar da diferente abordagem, segundo École (1990), ambas convergiam para uma mesma classificação das faculdades da alma humana: 1) Faculdades do conhecimento – a) Faculdades sensíveis (sensibilidade, imaginação e memória); b) Faculdades intermediárias (atenção e reflexão); c) Faculdades intelectuais (intuição, juízo e raciocínio, todas elas na forma intuitiva e simbólica); e 2) Faculdades da apetição – apetite e aversão (nas formas sensível e racional). No final do século XIX, na chamada fundação científica e institucional da psicologia por Wilhelm Wundt (1832-1920), havia uma outra classificação dos temas cruciais da psicologia. Esta classificação é delineada em seu livro mais sistemático, o Grundriss der Psychologie (Esboço de Psicologia, 1998/1897): 1) Elementos psíquicos (Sensações puras e sentimentos simples); 2) Compostos psíquicos (Idéias intensivas, espaciais e temporais, sentimentos compostos, emoções e processos volitivos); 3) Interconexão de compostos psíquicos (consciência, atenção, associações e combinações aperceptivas); 4) Desenvolvimento psíquico dos animais, crianças e comunidades mentais; 5) Causalidade psíquica e suas leis (de Relação e desenvolvimento). Estes temas que iremos apresentar nada têm, pois de eternos, refletindo uma espécie de ordem imutável dos fenômenos psicológicos. Eles são históricos no duplo sentido em que refletem uma determinada forma de organização do conhecimento (a própria psicologia só é possível a partir