As vinhas da ira
Gilberto Maringoni 1
No início de As vinhas da ira, o jovem Tom Joad pede uma carona na estrada, tentando voltar para casa. A jornada parecia encerrar um drama anterior ao tempo ficcional do livro de John Steinbeck (1902-1968). Joad acabara de sair da cadeia, em liberdade condicional, após cumprir quatro anos de pena, acusado de homicídio. Um de seus interlocutores iniciais é um velho conhecido da família, o reverendo Jim Casy. A narrativa seca e econômica do escritor evidencia o desejo do rapaz: um pouso seguro, após anos de atribulações. Ao cabo de uma curta jornada, Casy e Joad parecem alcançar seus objetivos.
“Chegaram, enfim, ao declive da colina, e viram aos seus pés, a casa de
Joad.
Joad parou e olhou intrigado.
- Não tem ninguém em casa – exclamou. – Olhe só para lá. Alguma coisa aconteceu. E os dois quedaram imóveis, olhos fixos no pequeno grupo de construções”2. O casebre dos Joad estava deserto, assim como vários ao redor. A família deslocara-se para a residência de um tio, perto dali. Estavam pai, mãe e irmãos carregando um velho caminhão Hudson com todas as tralhas que podiam. “Nós vamo pra Califórnia”, disse o
Pai 3. Ficaram seduzidos por folhetos, distribuídos à farta, alardeando empregos e bons salários no extremo oeste. Na viagem iriam além de todos, o Avô, a Avó e o reverendo
Casy.
O retorno esperado por Joad não se completa em nenhuma condição. Não havia casa. E não existia mais a condição anterior do pai, de pequeno arrendatário no interior do
1
Doutor em História Social pela FFLCH-USP, professor da Faculdade Cásper Líbero, pesquisador do
IPEA e autor de A Venezuela que se inventa, poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez
2
Steinbeck, John, As vinhas da ira, Abril Cultural, São Paulo, 1982, pág. 40. Grafado em maiúscula.
3
Idem, pág. 93
Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011
1
Oklahoma, no início dos anos