As traduções dos nomes do diabo em grande sertão: veredas
INTRODUÇÃO Este trabalho nasceu de uma curiosidade muito específica: como teriam sido traduzidos para a língua inglesa (na tradução americana) os nomes do diabo que se espalham em todo o percurso de Grande sertão: Veredas de Guimarães Rosa? Trabalho aparentemente simples, coisa de comparar textos e ir verificando como o tradutor se virou com tanto nome criado para esse outro tão esconjurado, ao menor susto, com rezas, água benta, sinal da cruz... Descobri, então, que a busca por esses nomes levou a enveredar por um texto cheio de armadilhas: ir em busca do autor, procurar arquivos, descobrir o que não estava procurando, perder o rumo... até parece coisa do Demo, mas o trabalho, enfim, achou seu caminho. O referencial teórico adotado tem como chave interpretativa a obra o O: a ficção da literatura em Grande sertão: Veredas e a Terceira Margem, de João A. Hansen, com o apoio de Roman Jakobson, Lingüística e Comunicação e com o próprio Rosa, lendo sua Correspondência com seu tradutor italiano, Correspondência com o tradutor alemão e também sua troca de cartas com a tradutora norte-americana Harriet de Onís. Para fundamentação teórica sobre a tradução, vamos trabalhar com A poética da tradução, de Mario Laranjeira e com A Tarefa (Renúncia) do Tradutor de Walter Benjamin. No primeiro momento, pomos lado a lado a obra traduzida e a original, mostrando como Deus e o Diabo, muitas vezes, caminham juntos; como a presença de ambos é intensa na vida do sertanejo e até que ponto o Diabo é temido. Em seguida, analisamos a tradução dos nomes, sempre pensando no fato de ser quase uma lei na tradução deixar os nomes próprios intocados – eles são “próprios”. Nesse caso, Harriet de Onís poderia simplesmente copiar cada nome, sem nenhuma preocupação com os neologismos de Rosa. Contudo, lendo Grande sertão: Veredas percebemos a força dos nomes, e isso se deve ao fato de Guimarães Rosa apoderar-se não só de substantivos e adjetivos, mas de locuções, interjeições, artigos, enfim