Diálogo com guimarães rosa
Gênova, janeiro de 1965.
LORENZ: Ontem, quando escritores participantes deste Congresso[1]debatiam sobre a política em geral e o compromisso político do escritor, você, João Guimarães Rosa, político, diplomata e escritor brasileiro, abandonou a sala. Embora sua saída não tenha sido demonstrativa, pela expressão de seu rosto e pelas observações que fez, podia-se deduzir que o tema em questão não era de seu agrado.
GUIMARÃES ROSA: É verdade; agi daquela forma, porque o tema não me agradava. E para que nos entendamos bem, digo-lhes que não abandonei a sala em sinal de protesto contra o fato de estarem discutindo política. Não foi absolutamente um ato de protesto. Saí simplesmente, porque achei monótono. Se alguém interpreta isto como um protesto, nada posso fazer. Embora eu veja o escritor como um homem que assume uma grande responsabilidade, creio entretanto, que não deveria se ocupar de política; não desta forma de política. Sua missão é muito mais importante: é o próprio homem. Por isso a política nos toma um tempo valioso. Quando os escritores levam a sério o seu compromisso, a política se torna supérflua. Além disso, eu sou escritor, e se você quiser, também diplomata; político nunca fui.
LORENZ: É uma bela opinião sobre a importância do papel do escritor: mas não será demasiado idealista? Foram discutidos muitos aspectos do cotidiano político; e, além disso, acho que um escritor não teria muitas probabilidades de êxito se, como você quer, tratasse apenas do homem em geral, deixando de lado a vida diária desse mesmo homem.
GUIMARÃES ROSA: Posso compreender isso e também sei que aqui provavelmente todos pensam de modo diferente do meu. Entretanto, me propus a dizê-lo claramente: tenho a impressão de que todos eles discutem demasiado, e por isso não conseguirão realizar tudo o que desejam. Perdem muito tempo, que empregariam melhor escrevendo. Mesmo supondo-se que tudo aquilo que dizem estivesse certo, então seria ainda mais