As nada românticas memórias de um sargento de milícias.
Noeli Aparecida Monteiro Costa
O presente artigo pretende analisar alguns aspectos que torna destoante da sua contemporaneidade a obra “ Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, publicado entre 1852 e 1853.
Inicialmente a obra foi publicada no formato de folhetins, escritos semanalmente para o “Correio Mercantil”, jornal carioca onde o autor trabalhava. Posteriormente, foi compilada em formato de livro, em dois volumes, respectivamente em 1854 e 1855, assinada com o pseudônimo “Um Brasileiro”.
Foi considerada um desvio do padrão Romântico, indo de encontro aos princípios literários comuns à década de 1850. Nesse momento a literatura vivia o auge do ultra-romantismo, ou seja, um período marcado pelo pessimismo, pelo egocentrismo e por outros valores decadentes como a bebida, o vício, a boemia e a atração pela noite e pela morte.
A novela de Almeida, protagonizada por uma personagem de caráter duvidoso, apresenta o cotidiano das pessoas que viviam nos subúrbios cariocas; contrastando, pelo menos aparentemente, com a vida burguesa da corte, mais costumeiramente retratada nas produções literárias durante o período Romântico. O público estava voltado para o movimento ultra-romântico, no qual, os poetas, cheios de sentimentalismo, “viviam entediados, sem perspectivas, sonhando com amores impossíveis e esperando a morte chegar”,(CEREJA;MAGALHÃES,1995, p.120) e totalmente desinteressados pela vida político-social.
De acordo com José Nicola (1988, p.79), “as Memórias ferem a sensibilidade Romântica”, ao trazer um anti-herói como protagonista.
Ao atentar-se para esse “ferir”, é possível perceber-se um novo caminho, que, possivelmente poderá levar a uma compreensão mais ampla, ou seja, pode-se encontrar ali, na literatura, um interesse pela vida político-social da época, o que faz da obra, uma transgressora dos padrões literários vigentes. De acordo com Kothe,