As formas elementares de uma concepção religiosa
Le croyant s'incline devant Dieu, parce que c'est de Dieu qu'il croit tenir l'être, et particulièrement son être mental, son âme. Nous avons des raisons d'éprouver ce sentiment pour la collectivité
Emile Durkheim
O positivismo, como se sabe, ao lado de ser uma doutrina científica, é fundado como uma doutrina religiosa por Auguste Comte (1798-1857), logo após a morte de sua amada Clotilde de Vaux (1846), que foi "canonizada" e se constituiu objeto personalizado de culto desta nova religião. Seu marco literário foi a publicação do Système de philosophie positive, ou traité de sociologie instituant la religion de l'humanité (1848) e, enquanto uma religião de caráter missionário, não abdicou nem mesmo de ter seu catecismo (Catéchisme positiviste, 1852). A religião positivista é fundamentalmente uma sociolatria. Seu Deus, seu objeto de culto último e principal, é a sociedade. Seus crentes concebem a sociedade como uma totalidade orgânica passível de ser conhecida, nos moldes de uma ciência positiva, por uma "física social", cuja "estática" estaria incumbida de produzir uma teoria positiva da ordem. Complementarmente, concebem a história dessa sociedade como a realização de formas definidas como estágios necessários de um progresso, cuja teorização, sempre nos moldes de uma ciência positiva, estaria a cargo de uma "física social dinâmica". A rigor, essa teoria positiva do progresso nada mais é do que a tradução "cientificista" de determinadas convicções (cuja expressão máxima talvez seja o pensamento das Luzes) a respeito do sentido da história européia, que entendem que o sistema medieval, caracterizado pelo poder espiritual (teológico e papal) e pelo poder temporal (militar e feudal), teria sido substituído por um sistema positivo (científico e industrial). Além disso, Comte também interpretava que, à sua época, o curso deste progresso estaria sendo obstaculizado por forças retrógradas, que impediam a Revolução