As Eumênides de Ésquilo: a criação o das leis escritas e a transformação da concepção de justiça
INSTITUTO DE CULTURA E ARTE
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
As Eumênides de Ésquilo: a criação das leis escritas e a transformação da concepção de justiça
Tópicos Especiais em Filosofia Antiga (Pré-Socráticos)
Maria Aparecida Montenegro
Ícaro Gomes Silva
2015.1
RESUMO
A obra Eumênides, último capítulo da trilogia de Ésquilo que ficou conhecida como Orestéia, narra o julgamento de Orestes por ter cometido o matricídio. Mas a jurisdição nem sempre foi a forma de resolução dos crimes e dos conflitos. Neste trabalho pretendo abordar as transformações que levaram o surgimento das leis (nómos) na Grécia Clássica e apresentar a concepção arcaica de uma justiça “feita com as próprias mãos” contraposta com a nova justiça, regulamentada através de uma codificação pública. Para isso, também abordarei a tragédia Eumênides, focando na imagem mitológica das Erínias (também chamadas de Fúrias ou Górgonas) e relacionando com a discussão.
Palavras chave: leis; justiça, tragédias gregas, Ésquilo, Eumênides
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A formação de um sistema jurídico pautado em leis escritas integrou um fenômeno inédito na Hélade Clássica, que ganhou força durante o século VII a. C. Até o final do período clássico e o início do período helenístico, o tema da justiça e da ética esteve presente nos principais textos de diferentes gêneros da época: documentos históricos, literários, filosóficos etc. Entretanto, as leis nunca foram concebidas de forma homogênea: ora são vistas como um presente divino, representando o mais alto símbolo de sociabilidade; ora são vistas com desconfiança, um artifício convencional e limitado; ora são denunciadas como fomentadoras de injustiças, elementos criados para controles arbitrários de governantes, visto que a sua criação é dotada de intencionalidades e normalmente está restrita a pequenos grupos; ora são vistas como pactos humanos cheios de contradições, entretanto,