Psicologia Estudos

AS APORIAS DE ÉDIPO
Piotr Kilanowski
Quando, numa tentativa enérgica de fitar de frente o Sol, nos desviamos ofuscados, surgem diante dos olhos, como uma espécie de remédio, manchas escuras: inversamente, as luminosas aparições dos heróis de
Sófocles, em suma, o apolíneo da máscara, são produtos necessários de um olhar no que há de mais íntimo e horroroso na natureza, como que manchas luminosas para curar a vista ferida pela noite medonha
[Friedrich Nietzsche O Nascimento da tragédia]
1.0 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho consiste em tentar estabelecer as linhas de ligação entre os conceitos de consciente e de inconsciente, na concepção jungiana destes termos, e a imagem da incessante batalha de potências simétricas e opostas, deuses supernais e infernais, patriarcais e matriarcais, da qual a tragédia grega é o campo. Como deuses podemos entender tanto os deuses de Ésquilo, quanto as facetas arquetípicas dos personagens de Sófocles, ou potências manifestas em conflito no interior da mesma consciência nas tragédias de Eurípides. Tentaremos para tanto pesquisar indícios de patriarcado e de matriarcado nas tragédias e tentar interpretá-los à luz dos estudos jungianos sobre o processo de individuação. Procuraremos ao longo deste trabalho demonstrar como o lado masculino e o feminino estão procurando estabelecer o conflito como base necessária para crescimento interior e equilíbrio. Para poder fazer isso de maneira satisfatória iremos apresentar na primeira parte do trabalho os resultados da pesquisa mito-psicológica, incluindo exemplos de tragédia, para poder em seguida, na segunda parte aplicá-los às tragédias Édipo Rei e Édipo em Colono de Sófocles. Como estamos vivendo numa época ainda patriarcal, que está redescobrindo o feminino que, querendo ou não, continua sendo a faceta mais obscura e inconsciente para nós, vamos dar a ênfase mais forte neste feminino, como aliás têm feito os trágicos que viviam na época patriarcal que ainda