As duas faces do Gueto
O livro de Loic Wacquant, “As duas faces do gueto”, elaborado após uma intensa pesquisa em guetos norte-americanos, analisa de forma sociológica as origens e as características dessas formações urbanas. O autor considera o gueto como um “mundo negro” dentro do “mundo branco”, e mostra como o Estado é negligente e relapso com essas populações. Diferentemente do que ocorre na França, por exemplo, onde as cités são formadas por pessoas que simplesmente não conseguiram sucesso econômico e não acumularam capital para estar numa situação melhor, os guetos dos Estados Unidos da América apresentam um panorama muito mais complexo, excludente e difícil de ser mudado. Esses guetos são marcados pela violência, segregação, discriminação e preconceito, situações que acabam excluindo-o da sociedade.
O Estado, teoricamente garantidor dos direitos da população, principalmente dos mais vulneráveis, não age para amenizar os problemas dos guetos, pelo contrário, é negligente e abandona os marginalizados sem serviços públicos, tornando-os ainda mais desiguais e inconformados com essa situação. Consequentemente, há uma crescente despacificação e descivilização desses locais, que acabam se afastando ainda mais da cultura da parcela da população que detêm recursos e, por fim, leva ao principal problema urbano da atualidade, o crescimento desordenado dos guetos e consequente elevação dos índices de violência.
A pobreza e a pele negra, principais características dos moradores dos guetos, os diferenciam da população em geral, que acaba discriminando-os ainda mais, não dando a eles oportunidades de emprego. Essa discriminação faz os guetos se incharem, o que consequentemente acaba fortalecendo o tráfico de drogas, quase sempre a única possibilidade de trabalho para os moradores jovens de lá. O tráfico, por sua vez, valoriza esses jovens, que veem nele uma boa possibilidade de renda e, assim, não retornam mais à