as desigualdades multiplicadas
As desigualdades multiplicadas*
François Dubet
Université Segalen, Bourdeaux, France. CADIS, EHESS, Paris, France
Tradução : Maria do Carmo Duffles Teixeira
Revisão Técnica: Léa Pinheiro Paixão e Maria José Jacques G. de Almeida
Podemos assumir duas posições com relação às desigualdades: tentarmos descrever as desigualdades, suas escalas e registros, seu crescimento e sua redução, o que supõe, para não ficarmos em generalidades, escolhermos uma dimensão particular, como o consumo, a educação, o trabalho;1 ou também analisarmos as desigualdades como conjunto de processos sociais, de mecanismos e experiências coletivas e individuais.
No primeiro caso, corremos o risco de sermos precisos e sem perspectivas e, no segundo, de sermos vagos, mesmo tentando esclarecer certos aspectos da natureza das sociedades em que vivemos.
Escolhi a segunda perspectiva, tentando mostrar a dupla natureza das desigualdades, dentre as quais
algumas se reduzem enquanto outras, ao contrário, se ampliam. Esse movimento não é simples conseqüência da globalização e se encontra no centro de nossa vida social e de suas tensões. É preciso também situá-lo na experiência dos atores ou de alguns deles, para que daí possamos tirar algumas conclusões no âmbito da análise sociológica. Se quisermos escapar do simples recenseamento, ainda que crítico, é preciso transformar as desigualdades num objeto sociológico, talvez mesmo num objeto de filosofia política, já que, nesse campo, a relação com os valores e com a política está sempre vivamente presente nas teorias.
1. A dupla face da modernidade
* “Les inégalités multipliées”, texto da conferência proferida no XVI Congrès International de l’Association Internationale des
Sociologues de Langue Française (AISLF), na Université Laval,
Québec, Canadá, em julho de 2000. Publicado posteriormente por
Éditions de L’Aube, França, em 2000.
1
Para um balanço desse tipo, cf. A. Birh, R.