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O mandarim vermelho
Mao Tse-tung, um dos mais duros governantes do século 20, considerava o ser humano uma estatística e, até a morte, foi o maestro da tragédia chinesa
A China é o mais antigo regime comunista do mundo. A República Popular da China nasceu em 1949, mas o primeiro Estado comunista autônomo foi criado em novembro de 1931, tendo, como presidente, Mao Tse-tung, previamente escolhido por Stalin. Nascido de uma família camponesa budista em 1893, o presidente Mao participou da fundação do Partido Comunista Chinês (PCC), em 1921, e foi até a morte o maestro da tragédia chinesa.
A China era um império decadente e corrupto, manipulado pelas potências ocidentais no início do século 20, quando surgiram o Kuomintang (Partido Nacionalista), que viria a ser liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista de Mao Tse-tung. Ambos guerrearam entre si, combateram os japoneses e expurgaram os adversários internos, em décadas de perseguições, torturas e fuzilamentos.
Na Segunda Guerra, Stálin patrocinou uma aliança Chiang-Mao para enfrentar o Japão. Mas as forças comunistas e nacionalistas nunca cessaram as escaramuças entre si.
Mao, com menor poder de fogo, mas com maior astúcia, ampliou geograficamente as posições dominadas pelo PCC em território chinês. Após a rendição do Japão, em 1945, bastaram quatro anos para o Exército Vermelho varrer os nacionalistas do continente.
Mao tornou-se, então, um dos mais duros governantes do século 20. As vítimas da revolução chinesa contam-se em dezenas de milhões. Impossível estimar um número exato. Já no início da disputa territorial com o Kuomintang, que teve na Longa Marcha (1934/1935) seu mais conhecido episódio, a selvageria predominou, tanto por parte dos maoístas quanto das tropas de Chiang Kai-shek.
Depois, no período da guerra contra o Japão, a partir de 1937, há relatos impublicáveis de episódios de violência. Mulheres foram torturadas, estupradas e vendidas em mercados de escravos.