Artigo Gua Viva Revista Pontes
Sebastião Soares de Castro (PG-UEM)
RESUMO: Esse artigo apresenta uma investida na obra Água Viva de Clarice Lispector no sentido de apalpá-la - embora não seja tarefa tão fácil - por fora e por dentro, ou seja, procurará analisar o aspecto composicional da obra que, em linhas gerais, ora parece pintura ora parece escrita, onde imagens e escritas funcionam como objetos gritantes, a expressarem ecos e silêncios de um ser-tempo pertencente a um mundo absurdo, sem sentido, sempre a ir e vir à procura de alguém para questionar a existência humana. Esse alguém que encontra é justamente o próprio leitor que com ele estabelecerá diálogos e, para tanto, lança mão de recursos sintáticos como frases curtas, uso de pontuações, lacunas, pausas e reflexões constantes, tornando-o, assim, não somente um parceiro de sua história, mas também um co-autor de sua obra. Como há de se perceber, Água Viva longe de discutir se trata ou não de um romance, apresenta ainda a tessitura de um objeto estético por excelência, pois diz respeito à participação e à atualização do leitor na obra – tal qual o narrador- personagem de Se um Viajante na Noite de Inverno, de Ítalo Calvino (1979), e ambos, dessa forma, são como resultado da recepção da leitura, segundo Jauss (1994). Assim, esse tipo de leitor dificilmente se comportará como componente passivo, consoante teoria de Zilberman (1989), pois, num átimo, é capturado pelas regras do jogo sinestésico proposto pela autora, que vai lhe oferecendo várias expectativas de perguntas e respostas, alcançando status e valor estéticos brilhantes. Nesse contexto, procurará construir uma reflexão em torno desse leitor e os diversos modos semióticos que emprega para se tornar hábil, co-participante da obra lispectoriana, dentro da