Artigo 1
João Francisco Regis de Morais Doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professor de Filosofia na Unicamp e Puccamp.
Concretamente, hoje vivemos a realidade científico-tecnológica em clima de muita perplexidade, pois que a vivemos de forma ambígua. Se de um lado nos encantam cada vez mais as façanhas da engenharia genética ou da medicina nuclear, temos que havernos com as sombras de Three Mile Island e Chernobyl - dois desastres monumentais resultantes dos avanços dos recursos da ciência contemporânea. Além disso, já se disse que se, hoje em dia, uma parte da população do mundo morre porque não tem comida morre de fome, a outra parte da população está morrendo porque a tem; isto é: em termos de substituição do natural pelo quimicamente preparado, conta-se com alimentos cada vez menos confiáveis, como os diabéticos da maior parte do chamado Terceira Mundo que adoçam suas bebidas com sacarina, substância extraída de um derivado do petróleo já comprovadamente cancerígeno. Eis porque em outros escritos meus já afirmei que a ciência e a técnica se constituem nas glórias e nas misérias do presente século.
Inevitavelmente, a ciência e a tecnologia não são boas ou más. São ambas as coisas. E isto porque às suas funções manifestas, conhecidas e declaradas, correspondem funções latentes desconhecidas no momento das novas criações e por isso mesmo caladas. Esta coisa pode ser constatada praticamente na maior parte das bulas de medicamentos, nas quais se lê que, embora os testes tenham sido feitos cuidadosamente, não são conhecidas todas as conseqüências da ingestão daquele remédio, sendo que principalmente este não deva ser dado a mulheres grávidas até tal mês do desenvolvimento fetal. A ciência e a tecnologia são boas e más também em razão de que, uma vez subvertidas por interesses econômicos e políticos, não podem mais ser livres de valores (value free) - se é que algum dia o tenham sido.
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