Arte, escola e valores sociais: possibilidades de encontro
Prof. Dr. José Marinho do Nascimento
A conquista do supérfluo produz uma excitação espiritual maior que a conquista do necessário.
O homem é uma criação do desejo, não uma criação da necessidade.
Gaston Bachelard
A arte é o triunfo sobre o caos.
John Cheever
Em que medida a Arte pode ser uma resposta à problemática dos valores em nossa sociedade?
A resposta à pergunta acima não é simples nem fácil, a começar pela definição da palavra Arte, que sempre precisa de uma circunscrição. Para tanto, recorro a Calabrese (1987) que, depois das idas e vindas a definições propostas pelos dicionários italianos (não tão diferentes das dos dicionários de língua portuguesa), resume assim o seu objeto de estudo:
[U]ma qualidade intrínseca a certas obras produzidas pela inteligência humana, em geral constituídas apenas de materiais visuais, que manifeste um efeito estético, leve a um juízo de valor sobre cada obra, sobre seu agrupamento ou sobre seus autores e que dependa de técnicas específicas ou modalidades de produção da própria obra (CALABRESE, 1987, p. 15).
Para o que pretendo discutir, a definição é suficiente, mas a ela faço uma ressalva a fim de chamar a atenção para um agrupamento artístico importante, que é o ligado ao som.
A definição de Calabrese põe em relevo, sobretudo, os materiais visuais de que são feitas as obras de arte (o desenho, a linha, a cor, o volume, a textura, a palavra lida com os olhos, etc.). O som, por constituir-se de outra matéria, fica relegado a um (imerecido) segundo plano. Diante desta lacuna, incluo na definição de Arte do crítico italiano a expressão “materiais sonoros” e, assim, contemplo um número grande de manifestações que prescindem dos materiais visuais. É incontestável o fato de que se pode ouvir uma ópera, uma sinfonia, uma história etc. e fruir-se a obra por meio da audição.
Outra observação importante: para o propósito deste