Terezinha Rios
O gesto do professor ensina
Terezinha Azerêdo Rios1
Cena 1:
Paro no sinal de trânsito. Quase automaticamente, olho em volta, levanto rapidamente a janela do carro, verifico se estão travadas as portas. Qualquer indivíduo que se aproxime provoca uma aceleração no meu coração. Pior ainda se for um garoto enrolado num cobertor, que oculta suas mãos e o possível caco de vidro ou estilete, que alguns dias atrás me foi colocado próximo da cabeça com a ameaça: “O dinheiro, ou eu te furo!”.
Nenhum garoto se aproxima. O sinal abre e eu – sã e salva! – posso seguir adiante. A sensação de alívio é breve, porque daqui a pouco paro em outro sinal, onde, quem sabe, me espera um outro garoto, com outro caco de vidro, buscando dinheiro. Cena 2:
Ligo a televisão para ver o noticiário. Mas não é o noticiário que está na tela.
Estamos no horário da propaganda eleitoral. Não adianta nem mudar de canal – em todos, sucedem-se as imagens e discursos dos candidatos, esforçando-se para me convencer de que se eu não der meu voto a eles, estou emperrando a marcha do Brasil para o destino glorioso que o espera, para a superação dos problemas
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Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo do Centro Universitário Nove de
Julho.
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como o desemprego, a fome, os meninos de rua. A palavra ‘ética’ aparece em todos os discursos, como no refrão de uma canção.
Cena 3:
Um texto sobre Ética e Vida Social, que escrevi como parte do conteúdo do
Proformação – Programa de Formação de Professores em Exercício, é submetido à apreciação de um grupo de professoras leigas a quem o Programa se destina. As professoras trabalham em escolas rurais da região centro-oeste do Brasil e tiveram oportunidade de completar apenas o 1º grau. Nunca tiveram contato com a filosofia, muito menos com a ética como está tematizada no texto. Elas mostram interesse na leitura. Uma delas escreve em sua