Arquitetura e gambiarras
Entender a função de nós, arquitetos, em uma sociedade que preza cada vez mais a autonomia, pode ser uma tarefa difícil. Qual seria o papel do arquiteto se os usuários e construtores fizessem tudo por conta própria? Acredito que tornar-se um mediador é a resposta mais clara. Um mediador que aponte o lado técnico e o caminho mais adequado a se seguir.
Entretanto, na faculdade, quando estudamos, aprendemos que devemos identificar as necessidades de um local, através do diagnóstico e, a partir disso, realizar uma proposta de intervenção na área que solucione aquele problema.
Acontece que isso faz com que nós achemos que somos uma espécie de “deuses”. Funciona mais ou menos assim: eu decido que falta isso, eu proponho que isso seja construído e fala que os usuários têm que usar isso de tal maneira.
Mas e aí? E se o usuário fizer diferente? Se ele usar o que você propôs de outra forma que não aquela que você havia sugerido (ou imposto)? Isso pode ser uma frustação pro arquiteto ou podemos aprender a lidar com isso. Essa “outra forma” de uso para certa coisa na cidade pode ser chamada de GAMBIARRA URBANA.
Nosso papel agora pode ser outro, o de facilitador da gambiarra. Isso pode soar estranho, porque normalmente entendemos a gambiarra como algo errado, mas não, a gambiarra aqui mencionada, significa um jeito que cada pessoa encontra de solucionar um problema particular e específico.
Ou seja, para propor espaços mais democráticos e propícios a receber gambiarras, estes não podem ter suas possibilidades de uso pré-definidas e devem ter alternativas para usos que não foram