Arqueologia
Lúcio Menezes Ferreira
Universidade Federal de Pelotas
Pedro Paulo Abreu Funari
Universidade Estadual de Campinas
A arqueologia iniciou-se, como disciplina científica, na esteira do imperialismo das grandes potências. A empreitada arqueológica inseria-se no domínio colonial, como parte de disputas estratégicas. Não à toa, os arqueólogos ligavam-se aos serviços militares ou de informação e serviam a agendas voltadas para o controle material e ideológico das periferias. Ao lado dessa vertente imperial, a disciplina, ab initio, esteve imbricada na construção de identidades nacionais, de cunho masculino, tendo como objetivo a coesão social e a uniformidade, no presente e no passado. A disciplina, assim, surgia e firmava-se como parte do amplo espectro de agenciamentos das normatizações, tanto em âmbito interno, em cada Estado Nacional, como na relação com os sujeitos externos da opressão, nas periferias asiática, africana, médio-oriental e latinoamericana.
Esse quadro mudou radicalmente nas últimas décadas. Nas potências centrais, emergiram grupos sociais e de interesse que implodiram as pretensões de homogeneidade e subordinação às normas, tão bem articuladas no primeiro século e meio da incipiente arqueologia. Nas sociedades ocidentais, as mulheres, antes ausentes ou subjugadas, emergiram como sujeitos sociais cada vez mais ativos. Se até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) as arqueólogas eram raras e em posições subalternas, depois disso multiplicaram-se e assumiram, muitas vezes, um protagonismo notável.
Quem não há de lembrar-se de Kathleen Kenyon (1952), notável pioneira que inspirou tantas jovens arqueólogas a partir da década de 1940. Rompida esta barreira, outras muitas foram superadas, com o reconhecimento da diversidade de grupos humanos: hoje não causa espanto a arqueologia de gênero, queer ou a variedade de sexualidades, tanto dos arqueólogos, como dos seus temas de investigação (Schmidt e Voss,