Aritoteles
“A Física de Aristóteles é, em retracção, e por essa razão nunca suficientemente atravessado pelo pensamento, o livro de fundo da filosofia ocidental”
(Heidegger)[1]
O duplo gesto em volta da definição filosófica: separação e retorno às coisas
A ousia: compreender o movimento dos vivos
A ousia e o tempo
Física: filosofia-com-ciências
Aristóteles não é aristotélico
Bibliografia
O duplo gesto em volta da definição filosófica: separação e retorno às coisas 1. Platão recebeu a definição de Sócrates; foi este o seu inventor, diz Aristóteles na Metafísica, mas “só para as coisas éticas e não [como fez ele mesmo] para as que têm relação com a phusis no seu conjunto” (A, 6, 987b1-2). A definição é uma operação de escrita, uma operação violenta. Ela consiste na de-limitação do significado duma palavra, na de-cisão de excluir dela a polissemia, a sua variabilidade contextual: o seu efeito seria o de querer fazer coincidir o significado com o significante (em categorias saussurianas), como sucede na convencio-nalidade da escrita matemática; trata-se em certo sentido de querer anular a articulação literal da linguagem, de só lhe deixar a articulação sintáctica[2]. É claro que não chega uma decisão-definição, é preciso que haja em simultâneo uma intervenção, igualmente violenta, sobre o contexto: eliminar-lhe os verbos e a sua rica morfologia de adequação aos detalhes e jeitos da chamada ‘realidade’ que os textos contam, não deixando, no lugar focal das suas frases, senão a cópula (é / são)[3] e os seus equivalentes. É esta textualidade gnosiológica - em torno das definições de essências e dos argumentos sobre elas - que foi a invenção da escola socrática de filosofia, de que se pode encontrar a caracterização nos textos de Benveniste sobre a frase nominal e os auxiliares ‘être’ e ‘avoir’, que veio, sem ele dar por isso, completar as que ele