argumentos de um escritor falido
Eu gosto da escória. Gosto de me banhar na sujeira e de descer a rua Augusta para ver as prostitutas seminuas prostradas. Todas ali, com suas peles maquiadas para esconder o ressecamento e a flacidez de algo além da pele. Tenho apreço pela dor silenciosa, quase sádica, escondida em seus sorrisos cínicos. Nasci para ver isso.
Na minha infância recordo de minha avó comentando que essa rua já foi um lugar aonde pessoas refinadas passeavam. Todo velho fala isso. Como eu acredito em tudo e em todos (e sempre fui assim, ou exatamente o contrário?), não discutia. Mas, o fato é que numa esquina da Augusta há um bar que é freqüentado por todo tipo de gente. Desde hippies amantes de Doors até intelectuais conhecedores profundos de meia página de um livro de Kafka.
Repare. Temos uma rua e um bar. É uma noite de quinta feira e faz calor. Estou vestido com uma camiseta preta e uma calça jeans que já esteve em dias melhores. Tênis? O bar, aliás, está quase vazio e me sento na primeira cadeira que encontro na parte externa. Como sou um rapaz de posses, olho o bolso e reparo que duas cervejas são o meu plano de gastos.
Olho de um lado ao outro e tenho vontade de fugir. Eu teria feito não fosse a entusiasmada conversa de um casal hippie sentado ao meu lado. Vestidos com roupas desgastadas, chinelos e com cabelos compridos não posso afirmar que seu odor seja realmente agradável. Calculo que seria um incomodo caso estivesse sentado a menos de um metro. Não é o caso.
“Honneyy” - Assim chamava ele a namorada(?) - “Sabe, pra mim “filósofo tal”, conhecido por Estivador, descreve, sem medo, com a mente aberta e os olhos atentos á vida real, os sonhos surreais e as ilusões que vivemos e nos fazem respirar a poluição com prazer”.
Neste momento, fui incapaz de não imaginar: “Eeeiiiiiiiii!!! Eu!!!!Eu mesmo!!! Eu sou o Estivador! É isso que eu penso sim e tem muito mais!”
“Não acredito”- diria ele empolgado com nossa conversa imaginária - “Estivador! Vc