Apreciação da obra de arte: a proposta triangular
Raimundo Matos de Leão*
Antes de abordar o assunto propriamente dito, gostaria de apresentar um texto de Leonardo da Vinci, solicitando ao leitor que o mantenha no foco de sua atenção durante a leitura desse artigo, cujo tema é a apreciação da obra de arte tendo como ponto de partida a proposta triangular de Ana Mae Barbosa.
Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...)
É janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessidade! Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (...) O espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que adota a cor do que olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si (apud Chauí, 1998, p. 31).
É sobre esse absorver, sobre esse captar de que nos fala Da Vinci, que trabalharemos, abordando a metodologia triangular para a leitura da obra de arte.
Nos anos 70, ainda sob as influências da Escolinha de Arte do Brasil, de Augusto Rodrigues, o ensino da arte se deu na perspectiva do fazer artístico. O trabalho dos arte-educadores estava centrado nas propostas de experimentação expressiva como a mola propulsora para o processo criador. Valorizava-se o desenvolvimento da auto-expressão e da auto-descoberta. Muitas experiências positivas foram realizadas nesse senti-
Antropofagia - Tarcila do Amaral (1929)
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do, e muitos equívocos foram cometidos.
A nossa avaliação é de que o fazer artístico nos espaços educativos facilitou o aprendizado da arte, possibilitando ao educando o desenvolvimento do pensamento e da linguagem presentacional, um dos sistemas de conhecimento, conforme Susanne Langer (s.d., pp. 81-90).
O outro sistema de conhecimento, diferente do presentacional, é o do pensamento/linguagem discursivo, que caracteriza as áreas onde o discurso verbal é