Ao outro via mim

AO OUTRO VIA MIM

Confesso que o uso do pronome oblíquo arranha um pouco meu ouvido, mas que o título ficou atrativo não posso negar. Este pequeno escrito foi provocado pela leitura de um trecho do livro Meditando a Vida, do monge budista gaúcho Padma Samten, de que já falei em outro escrito. O livro é excelente e merece ser meditado a cada subtítulo. Afinal, fala da Vida!

À página 74, com o subtítulo Quatro qualidades incomensuráveis, discorre sobre as qualidades (quatro) que devem ser cotidianamente treinadas, pois são imprescindíveis ao desenvolvimento de quem queira evoluir humana e espiritualmente. Acredito que ‘humana’ e ‘espiritualmente’ aqui podem ser tomados como sinônimos, pois o que nós faz humanos é o que transcende à mera animalidade biológica e mesmo intelectiva.

A primeira qualidade é a compaixão. Segundo o autor, ‘o desejo de que os seres realizem sua natureza interna e se livrem de suas complicações. Essencialmente é o desejo de que o outro supere suas dificuldades e possa melhorar. Atenção: compaixão é diferente de pena. Quando temos pena, validamos a imagem que a pessoa faz de si mesma, e que é a razão dela estar mal’. O sublinhado é meu, pois essa afirmação, por si só, já daria um tratado de auto-ajuda. Quando nos sentimos mal, estamos fazendo uma imagem de nós mesmos de ‘coitadinhos’, ‘injustiçados’, ‘filhinhos a quem mamãe negou o peito’ - poderia dizer um psicanalista. Sentir pena é compartilhar o mesmo sentimento, o que é bom. Ficar na pena é permanecer chorando junto, o que não ajuda em nada.

Compaixão é diferente de pena; é reconhecer que o outro possui uma natureza semelhante à minha, perfeita, luminosa e divina (percebe aqui a identificação?) e necessita re-conhecer isso como condição fundamental para superar suas dificuldades. É a verdadeira Fé, a Fé no eu sou/o outro é, eu posso/o outro pode, pois sou/o outro é feito à imagem e semelhança do divino. Não a fé no outro, no que está fora, no que me socorre como um favor. Não é