Enxergar

Eu estava em pânico – totalmente paralisada pelo medo que me consumia. Não sei qual medo era pior: o de não conseguir ou o de nunca mais tentar. Eu sabia que precisava mudar de posição naquele exato momento. Sabia que aqueles sentimentos ruins, apesar de estarem dentro de mim, não eram, de forma alguma, meus amigos. Eles me queriam mal, derrotada, para baixo. Não me deixavam caminhar, seguir em frente. E eram tantos deles que, por vezes, me senti derrotada, mesmo quando a guerra não havia acabado. Eu pensava: - eles estão comigo, eles são meus, devo obedecê-los. Mas isso não passava de um boicote. Boicote comigo mesma. Medo de crescer? Também. Mas havia mais, além disso. Só que eu não sabia identificar. Ainda não. Os acessos de pânico eram sempre iguais: corpo molhado, trêmulo, inquietude e as famosas borboletas no estômago. Mas não aquelas românticas de um primeiro encontro ou primeiro beijo. Eram outras. Borboletas escuras e grandes que pareciam querer estourar seu órgão digestivo em várias partículas só para poderem sair. Eu me olhava no espelho e não via. Não digo a minha imagem, ela eu com certeza via, todas as vezes. Eu não via além. Não conseguia olhar dentro dos meus olhos e dizer:
- ‘’eu sou assim, eu preciso disto’’.
Jamais. Eu não me enxergava. Não via minhas qualidades. E quando os outros as falavam, por mais que eu agradecesse, eu não concordava. Não acreditava. Pensava que não passava daquelas manias dos humanos de quererem expor algo bom de alguém em troca de outra coisa. Para mim, quando alguém me elogiava, queria algo. Um favor. Ou vários. Meu conceito. Meu afeto. Qualquer coisa. Mas tinha de haver reciprocidade. Não poderia ser uma simples pessoa que viu em mim algo bom e não teve receio ou orgulho de dizer. Digo orgulho porque por muitas vezes, vemos as qualidades dos nossos próximos, mas somos mesquinhos demais para admitir que o outro possua tais qualidades. Preferimos apontar os defeitos e esconder as qualidades. Não exalta-las. De