ANÁLISE-O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL
Através de seu poema, Cesário segue um passeio pelas ruas de Lisboa, fazendo uma descrição do que vê e do que sente quando vê. Nota-se então uma descrição altamente simbólica do espaço vivo da cidade, sendo feita uma relação do mundo que se conhece e do que se imagina através das imagens apresentadas.
A primeira parte do poema intitulada “Ave-Marias”, propõe uma leitura ao que se passa no cair da tarde para o início da noite, momento que as pessoas costumavam (e ainda costumam em algumas cidades e povoados interioranos) reunir-se para fazer suas orações. Dá início então à sua caminhada descrevendo objetivamente a cidade, mas deixando transparecer suas íntimas impressões:
“Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba,
Toldam-se duma cor monótona e londrina.”
Seguindo, na terceira estrofe, nota-se o eu poético em busca de certo paraíso que não consegue encontrar na sua cidade, mas em outros lugares:
“Batem os carros d’aluguel, ao fundo,
Levando à via férrea os que vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sanpetersburgo, o mundo!”
Na quarta estrofe, o eu lírico percebe os carpinteiros como morcegos e os andaimes, gaiolas, explicitando o mundo que se conhece e o mundo