Análise texto AUGÈ
Augé começa por informar de que criará um personagem para nos ajudar a entender os traços mais marcantes da chamada cosmo-tecnologia. Dupont, assim baptizado pelo autor francês, procura representar cada um de nós e os nossos comportamentos rotineiros. Vive num mundo aparentemente seguro e é um homem de meia idade que não reconhece valor no processo eleitoral, depositando o seu voto no candidato ao qual atribui melhores qualidades de gestão, independentemente do partido político a que pertença. Paralelamente, constitui família e o seu filho partilha a paixão por transmissões desportivas do pai e a paixão de viajar da mãe. No emprego e na vida pessoal, Dupont é um homem pontual e atento aos seus afazeres que o não impedem de desfrutar de alguns caprichos e pequenos momentos de felicidade, sejam eles assistir uma transmissão desportiva ou ir bebericando um copo de vinho durante um programa cultural. Protesta muito contra a televisão, critica os programas que passam e os horários a que passam, mas a televisão organiza o seu tempo e confere-lhe regularidade. É então um homem atual, que não aprecia pessoas ultrapassadas pelos tempos nem as que querem ultrapassar os tempos, desinteressando-se pela realidade presente.
Através de Dupont, Augé dá-nos a conhecer a sua interpretação do conceito de cosmo-tecnologia:
"Todos os grupos humanos têm cosmologias, representações do universo, do mundo e da sociedade que fornecem aos seus membros pontos de referência que lhes permitem conhecer o seu lugar, saber o que lhes é possível e impossível, autorizado e interdito" (Augé, Marc (2006). Para que Vivemos. Lisboa, 90 Graus Editores, p. 11.)
Essas cosmologias, ou representações totalizantes, formam-se através da experiência e são orientadas para a experiência, isto é, resultam das vivências passadas do indivíduo ou dos seus antecessores e