Análise São Bernardo - Graciliano Ramos

O foco narrativo da obra "São Bernardo", segundo a tipologia estabelecida por Norman Friedman, é de um narrador-protagonista, ou seja, o personagem principal do enredo é também o seu narrador. Como a professora Ligia Chiappini Moraes Leite bem explica em "O Foco Narrativo" isso significa que o narrador não tem acesso ao estado mental dos outros personagens, e narra de um ponto fixo, limitando-se às suas percepções, pensamentos e sentimentos.
Nesse caso o narrador é Paulo Honório. Quando se apresenta ao leitor ele primeiro descreve suas características físicas, porém não tarda em iniciar a descrição de sua história: uma infância difícil, o abandono dos pais, a exploração de seu trabalho são as características mais marcantes de sua infância, e talvez sirvam para explicar traços da personalidade com a qual o leitor ira se deparar em seguida.
O ciúmes, a agressividade e o sentimento de posse são três das principais características fortes do personagem que são mostradas logo no o inicio da narrativa - agressão ou cocorotes contra Germana e o assassinato de João Fagundes. As relações pessoais de Paulo são quase que exclusivamente por interesse - a exceção seja talvez a velha Margarida - isso denota sentimentos como egoísmo, frieza e resulta em relações vazias e rasas, além disso, ele insistia em tratar seus funcionários de maneira abusiva, opressora e insensível. A forte ambição do personagem por bens matérias e poder ajudam a selar essa personalidade materialista e impetuosa.
"Voltei pelo mesmo caminho e estive uma hora no relógio oficial, observando os passageiros dos bondes da Ponta-da-Terra. Afinal surgiu o focinho de rato do Brito.
- Olá!
Recuou, tentou retomar o estribo, mas o carro já ia longe. Franziu a testa com dignidade. Vendo o rebenque, empalideceu e gaguejou:
- Bons olhos o vejam. Que sorte! Sim senhor, precisamos conversar.
Agarrei-lhe o braço, puxei-o para junto do relógio e disse-lhe, quase cochichando para não espantar os transeuntes:
- Então,