Análise sobre o filme Sinedoque, Nova York
Minha vida é uma vida de sinédoque inventada no tablado do teatro, em pré-cartaz numa megalópole, alimentada sem importância, mergulhada no vazio da solidão irônica do próprio autor que sou, e encenada por outros corpos que não o meu. Uma constante inserção dentro de outra inserção, reprodução de retratos vivos dentro de outros retratos.
Meu mundo é um mundo de metonímias sem clareza da passagem do tempo. Sem perceber, aquela menininha de 04 anos já virou adulta, diverte homens de bolsos livres, toca seu destino até a beira da morte, num leito qualquer, forjado de mentiras sobre mim que apodrecem nossas almas, despetala rosas cinza e lega para a eternidade de quem vive uma condenação sem culpa.
Títulos sem sentidos para uma existência sem sentido. Crio e recrio, formo e transformo em grande escala as miudezas que se escondem nas entre linhas do dia a dia, e mesmo assim não consigo enxergar as debilidades que teimo inconscientemente em assegurar para mim.
Talvez, enfim, seja preciso uma voz escondida no ar que dirija, com pulso firme, as ações e sentimentos a um desfecho que faça valer o sentido do caos indomável que tem sido estar vivo. Uma voz que diga o que perguntar, o que responder... Uma voz que diga quando morrer e finalmente as cortinas do espetáculo se cerrarem, assinalando o fim do espetáculo. Talvez seja eu apenas uma parte isolada, representando o fragmento de um todo partido, disposto no mesmo vazio de ruas desertas, sem direção, cada vez mais solitário, em busca de palavras que nunca veem...