An Lise Pragmatica Luiz Gonzaga
Luiz Gonzaga Motta*
Resumo: O artigo advoga que narrativas são dispositivos argumentativos que utilizamos em nossos jogos de linguagem. Propõe o estudo das narrativas como estratégias organizadoras do discurso jornalístico. Sugere a análise da construção de significados através da reconfiguração do acontecimento jornalístico, seus conflitos, episódios funcionais, personagens, estratégias de objetivação (efeitos de real) e subjetivação (efeitos poéticos) e do “contrato cognitivo” entre jornalistas e audiência. Argumenta que a análise pragmática da narrativa jornalística permite a interpretação simbólica e revela metanarrativas culturais pré-jornalísticas.
Palavras chave: narrativa jornalística, pragmática, narratologia, efeitos de sentido
* Luiz Gonzaga Motta é jornalista, mestre pela Indiana University (USA), doutor pela
University of Wisconsin (USA), estágio de pós-doutorado na Universidade Autônoma de
Barcelona (Espanha). É pesquisador do CNPq, coordenador do Núcleo de Estudos sobre
Mídia e Política (NEMP), do Núcleo de Estudos da Narrativa (NENA) e professor da
Universidade de Brasília, onde desenvolve pesquisas sobre as narrativas jornalísticas, história do presente e a construção social da realidade.
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I. Introdução: mídia e comunicação narrativa
A narrativa traduz o conhecimento objetivo e subjetivo do mundo (o conhecimento sobre a natureza física, as relações humanas, as identidades, as crenças, valores e mitos, etc.) em relatos. A partir dos enunciados narrativos somos capazes de colocar as coisas em relação umas com as outras em uma ordem e perspectiva, em um desenrolar lógico e cronológico. É assim que compreendemos a maioria das coisas do mundo.
Isso quer dizer que a forma narrativa de contar as coisas está impregnada pela narratividade, a qualidade de descrever algo enunciando uma sucessão de estados de transformação. É a enunciação dos estados de transformação que organiza o discurso narrativo, que