Análise musical da música cotidiano
O momento obscuro pelo qual os brasileiros passavam dava-lhes a impressão de serem todos uma coisa só, tão repetitivos quanto o seu cotidiano, com os mesmos ideais, mesmas manias e defeitos, ambos previsíveis, é aquele velho modelo desgastado do cotidiano, sem espaço para rompimentos.
O homem aparece quase que na música inteira como sujeito passivo: “me sacode”, “me beija”, etc; e embora seja a mulher que praticasse aquelas ações, estas não eram decididas por ela, pois já estava tudo programado na rotina do casal. Assim, fica sugerido que este “ela”, que faz quase tudo na música, não é bem a mulher, mas a mulher servindo como fantoche do cotidiano opressor, e vivendo à sombra do marido. Os dois, portanto, eram manipulados pelo ciclo diário, não havia poder de decisão. O único momento em que o homem é sujeito ativo de uma oração, é quando está no trabalho e reflete sua condição como submisso, e justo neste momento, quando ele dá voz para si mesmo, é que se cala, aceitando a sua própria rejeição. Ele não se cala porque quer, mas porque não tem condições de se opor a essa ordem, superior às suas próprias