Análise do poema apontamento
Campus de São Jose do Rio Preto
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários
Licenciatura em Letras – Diurno
Teoria da Poesia
Docente responsável
A terceira fase, denominada de intimista e/ou pessimista, de Álvaro de Campos, é constituída de tédio, solidão, angústia, desilusão, revolta, frustração. Nela, Campos vive a oposição entre sonho e realidade, “Dor de viver”, estranheza, perplexidade e incompreensão. E é nessa fase em que o poema Apontamento pertence.
O poema apresenta irregularidade métrica e estrófica, versos longos e livres, ausência de rimas, anáfora nos versos 2, 3 e 4; “Caiu pela escada excessivamente abaixo/Caiu das mãos da criada descuidada/ Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.” .
Observa-se que o poema concede uma sensação auditiva com o verso “Fiz barulho na queda [...]”, e neste mesmo verso temos uma comparação entre o sujeito poético e o vaso; “[...] como um vaso que se partia”. Temos ainda uma sensação táctil no verso “Caiu das mãos da criada descuidada” e uma visual no verso “Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada”.
O sujeito poético exprime o desencanto, a desilusão, a desistência da vida, através da comparação entre a alma e um vaso partido em "A minha alma partiu-se como um vaso vazio". Com a metáfora do vaso vazio o poeta se sente inútil, sem conteúdo, sem ânimo e juntamente com a pergunta no verso “o que era eu um vaso vazio?”, confirma sua desilusão e intensifica a incerteza da essência do seu ser. Quando o sujeito poético faz essa pergunta, nota-se que ele já sabia do vazio de sua alma, porém, apenas quando os cacos aparecem, é que ele se questiona o quão vazio era.
Já os cacos são a metáfora para a alma fragmentada, a qual faz uma aproximação de Fernando Pessoa com seu heterónimo através da fragmentação do eu. Esse é um tema clássico de Pessoa e podemos tirar a conclusão de que neste poema Pessoa fala através de Campos.
Os cacos representam