Análise do Filme "O discurso do Rei"
O Discurso do Rei é um filme enriquecido por grandes atuações, beneficiado por um design de produção competente e que, em seu centro, aborda uma história humana. Além disso, do ponto de vista dramático é sempre um tiro certeiro trazer um protagonista que, embora aparentemente poderoso, tem problemas como qualquer outra pessoa – e o fato deste herói frequentemente fazer piadas a respeito do próprio problema oferece a vantagem de permitir que o espectador também se sinta livre para rir de seus deslizes na fala.
O filme apresenta o período em que a propagação do rádio tornou necessária a comunicação dos monarcas com seus súditos através de pronunciamentos constantes – algo que traz um compreensível desconforto ao príncipe, que, segundo na sucessão ao trono, julgava jamais ter que enfrentar publicamente sua severa gagueira e demais problemas de dicção.
Centrado na relação entre George VI e o australiano Logue, O Discurso do Rei logo se concentra nos momentos divididos pelos dois homens enquanto se entregam a longas conversas que talvez revelem a origem da gagueira do rei e a exercícios e truques que talvez ajudem o monarca a se comunicar mais fluentemente. Insistindo na importância de se enxergarem como “iguais” durante a terapia, Logue faz questão de chamar o paciente de “Bertie” (um apelido familiar) e frequentemente o trata como criança, repreendendo-o ou aconselhando-o – algo que George VI recebe com reserva inicial e com aceitação gradual. O filme, aliás, parece determinado a ilustrar a irreverência de Lionel desde sua primeira aparição, quando a rainha Elizabeth I entra em seu escritório apenas para ser recebida por um artificial “Estou na privada!” – num dos vários momentos em que o Logue parece sair de seu caminho em busca da risada fácil
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A narrativa sempre ganha mais força quando permanece focada na tortura enfrentada por George VI em função de sua disfunção: logo na cena inicial, por exemplo, o protagonista aparece perturbado pela