Análise do ensaio xamanismo e sacrifício de eduardo viveiros de castro
Xamanismo e sacrifício
O conceito de sacrifício evocado por Eduardo Viveiros de Castro, em seu ensaio Xamanismo e sacrifício, está vinculado à comunicação entre dois termos (subjetividades diferentes). A teoria de Mauss e Hubert, quando observada sob a ótica proposta no ensaio, consiste apenas em mais uma manifestação sacrificial, assim como o xamanismo e o canibalismo tupi-guarani.
A necessidade de postular uma definição sacrificial capaz de incluir ou excluir o complexo do xamanismo sul-americano, como o próprio autor afirma, é o movente que anima o texto. Tal definição seria um esquema genérico do sacrifício, uma equação que se possa reconhecer mesmo quando alteradas as variáveis. Dessa forma, para Eduardo, o sacrifício deixa de ser uma estrutura rígida (modelo clássico) e passa a consistir na circulação das forças envolvidas responsável pela indução ao momento de indiscernibilidade entre os termos (assunção do ponto de vista do outro).
O autor começa a desenvolver sua ideia pelo material etnográfico mais próximo da concepção maussiana de sacrifício, portanto pelo discurso escatológico araweté. Primeiro apresenta a estrutura: a alma do morto e sua devoração pelo mai, como prelúdio a transformação daquele em ser imortal semelhante a seu devorador; uma inversão do canibalismo bélico-sociológico tupinambá. O próximo movimento é a exposição dos argumentos usados para seu enquadramento no modelo maussiano (a identificação de um destinatário “sobrenatural” para o sacrifício, compreendido pelos mortos do grupo matador). Em seguida, contesta a aplicabilidade desse modelo ao caso e dá inicio à defesa do canibalismo, seja o póstumo ou o bélico-sociológico, como uma prática levada a cabo pelo grupo devorador com a finalidade de assumir o ponto de vista do grupo inimigo (teoria que encontra apoio nas canções de guerra araweté). Assim, anula a necessidade de divindades envolvidas no processo,