resenha pessimismo sentimental
Na primeira parte de seu artigo “O ‘pessimismo sentimental’ e a experiência etnográfica: Por que a cultura não é um ‘objeto’ em via de extinção”, com 24 páginas de texto, Marshall Sahlins, com a erudição e acidez lingüística que lhe é peculiar, responde as críticas contemporâneas à ciência antropológica e resgata a cultura da nostalgia a que lhe foi reservada desde os anos 50 com a teoria do desalento – enquanto objeto fadado à morte por conta do imperialismo colonizador europeu.
Embora os antropólogos não tenham ainda chegado a um consenso a respeito do conceito de “cultura”, uma de suas acepções mais disseminadas refere-se a esta enquanto “formas específicas da vida social humana”, algo como uma organização simbólica particular de cada sociedade. As críticas a este conceito se assentam no seu pressuposto discriminatório e diferenciador, tratando a cultura como uma ferramenta de vitimização. O fim último da antropologia aqui seria uma espécie de controle intelectual demarcador das diferenças, comparando a cultura com o conceito de “raça”. Os críticos que utilizam-se desses argumentos, entendem o surgimento do conceito como a “expressão da criação sistemática da alteridade pelo capitalismo”.
Contudo, as diversidades culturais adquirem valor de acordo com um contexto, e a cultura ao contrário da civilização, não pode ser transferida a outros povos, mas é ela justamente o modo singular de organização destes povos que se contrapõe a um projeto colonialista – ou seja, ela é fundamentalmente anticolonialista.
Ao contrário dos filósofos Iluministas que se baseavam na teoria contratualista de Estado de Hobbes e Locke, que apreendiam a natureza humana numa universalidade racional, Johann Gottfried Von Herder fundou uma antropologia na qual critica esse princípio, defendendo que as pessoas organizam suas experiências de acordo com o aparato de significados dos quais dispõe sua tradição. De modo que, a busca por uma verdade