Análise do discurso e diálogo entre história e jornalismo
Pedro Luis Navarro Barbosa (UEM)
Courtine, ao retomar a noção de “lugares de memória”, elaborada por Nora, refere-se à linguagem como um canteiro que fornece a evidência da memória encerrada nos genres discursifs de l’oraison funèbre, la nécrologie ou bien l’éloge académique; institutions de langage, avec leurs regimes et leurs pratiques de discours [...]centenaires des grands hommes et célébrations des grands événements (COURTINE, 1994, p. 9). Os modos de inscrição da memória na materialidade discursiva jornalística podem ser circunscritos nos textos em que o diálogo entre enunciado verbal e enunciado imagético funciona como um operador da memória social. É por esse viés que definimos a linguagem jornalística como um meio de acesso essencial à análise da história e dos conjuntos sociais da memória. Para analisar os efeitos desse diálogo, articulamos as noções de “enunciado” e de “arquivo” à produção discursiva da mídia impressa no contexto das comemorações dos 500 anos do Brasil, procurando verificar nesse processo que papel a memória exerceu na compreensão da identidade cultural brasileira.
A noção de acontecimento discursivo, reconfigurada por Foucault, em A arqueologia do saber, torna-se um princípio teórico-metodológico com o qual é possível abordar o discurso na sua irrupção e no seu acaso, ou seja, despojá-lo de toda e qualquer referência a uma origem supostamente determinável ou a qualquer sistema de causalidade entre as palavras e as coisas. A rejeição da noção de origem tem respaldo na filosofia proposta por Nietzchie, segundo a qual interpretar não é o mesmo que buscar um suposto significado original, uma vez que é o discurso que instaura a interpretação. Como salienta Veyne (1998), em cada época o conjunto de práticas discursivas engendra sobre um determinado objeto do saber um rosto histórico singular, uma determinada objetivação: Estado, loucura, governantes, governados etc; já em