Análise do conto "A Aposta"
De acordo com Julio Cortázar, o único modo de prender a atenção de um leitor de conto, para raptá-lo de seu mundinho e fazê-lo, por instantes, viver o conto alheio ao mundo ao seu redor, é através da intensidade e da tensão. Cortázar chama de intensidade a “eliminação de todas as ideias ou situações intermédias, de todos os recheios ou fases de transição que o romance permite e mesmo exige.”1. Essa intensidade seria a forma como nos é mostrada a essência da narrativa: bruscamente (Cortázar cita contos de Poe e Hemingway como exemplos dessa teoria), sem floreios ou rodeios, recusando acessórios que teriam o romance. Mas, continuando com a teoria de Cortázar, nem todo contista mostra a essência da sua narrativa logo nas primeiras linhas. Cito, como exemplo, Katherine Mansfield em “A Felicidade”, em que a narrativa longa cativa o leitor e nos guia demoradamente ao pico da tensão narrativa: a traição do marido da personagem principal com uma convidada que acabara de jantar em sua casa. A personagem fica estupefata com tal descoberta, e nós compartilhamos a mesma sensação dela, pois fomos pegos de surpresa como ela foi. Esse modo mais lento de desenvolver o conto Cortázar chama de tensão, uma intensidade que agarra o leitor não pelos fatos que pulam aos seus olhos logo nas primeiras linhas, mas o envolve pela atmosfera e pela expectativa que a própria narrativa gera. Dessa forma, é possível afirmar que a intensidade está mais relacionada à ação, enquanto que a tensão está relacionada a narrativa.
O conto narra a história de uma aposta feita entre um banqueiro e um jovem estudante, em que o motivo seria uma discussão que ambos tiveram sobre a validade da pena de morte ou da prisão perpétua. O jovem, para provar seu ponto de vista que é melhor viver sob