Estudante
Uma análise do conto “A Fortuna do Acampamento Trovejante”, de Francis Bret Harte.
Numa vila mineira na Califórnia tomada pela febre do ouro de meados do século XIX o narrador nos conta:
“Havia grande agitação no Campo Trovejante. Distúrbio, decerto não era, porque em 1850 não seria isso uma novidade que obrigasse todo o acampamento a correr para um mesmo lugar.” (HARTE. A Fortuna do Campo Trovejante, p. 11.)
Assim se abre o conto de Bret Harte, delineando-se já de saída a reputação pouco amistosa do acampamento em que a história se passa. Com efeito, o narrador procede a mencionar ainda a ocasião em que o francês Pete e o canaca Joe se mataram, atirando um no outro, em frente à taverna do Tuttle, sem que com isso, no entanto, causassem perturbação aos jogadores do lugar. É bem provável que eles tivessem até feito apostas com relação ao desfecho do duelo. Porém, desta vez, até o Tuttle esvaziara-se. É que um fato novo tomava lugar no Campo Trovejante. Não se tratava de uma morte, coisa tão corriqueira no lugar; pelo contrário, era uma vida que se iniciava.
Cherokee Sal, a índia dissoluta, única mulher no acampamento, estava dando à luz uma criança. Pouco importava quem era o pai. De fato, o mais provável é que ninguém soubesse ou se importasse, nem mesmo a mãe. Além do mais, naquele momento, a necessidade mais imperiosa de acudir ao parto tomava conta das preocupações dos habitantes do acampamento. Desamparada do próprio sexo, Cherokee Sal sofria “um martírio crudelíssimo de suportar”. Martírio é a primeira de uma série de referências bíblicas que o leitor encontra na obra. E a segunda não tarda a aparecer, pois é no mesmo parágrafo que o narrador aduz: “A maldição do pecado original a fulminara, nesse mesmo isolamento primitivo que devia ter tornado tão terrível o castigo da primeira transgressão.” (Harte, op. cit., p. 12.) Assim, já se começa a esboçar a redenção que a criança que estava por vir representava. Primeiramente