Análise do Conto Um Ladrão
No conto "Um Ladrão", de Graciliano Ramos, acompanhamos, em retrospectiva, um personagem anônimo às voltas com a decisão de assaltar ou não uma casa situada no alto de um morro. Trata-se de um bandido suburbano, cuja insegurança e método o narrador descreve como sendo o exato oposto das "qualidades" que usualmente se encontram em criminosos mais experientes. O paradigma do ladrão talentoso, por sinal, se solidifica na figura de Gaúcho, aparentemente o único vínculo de amizade do personagem, e a pessoa com cujos atributos profissionais a inépcia do protagonista é sempre contrastada. A voz narrativa ora se distancia da perspectiva do assaltante, ora se funde a ela, evidenciando-lhe, além dos receios imediatos e memórias desconexas, curiosos pudores morais (o medo de cometer sacrilégio quando decide não roubar ornamentos das imagens de santos) e os planos para a vida após o assalto, que ele pretende seja o último. O leitor é informado das privações às quais o personagem está submetido, através do misto de admiração e repulsa que a opulência do modo de vida dos moradores da casa lhe provoca, da fome despertada pela memória de um pedaço de queijo visto em outra ocasião etc. A figura de Gaúcho também desperta sentimentos conflitantes no protagonista. Ele antecipa o momento em que narrará ao colega sua proeza, mas teme que os muitos erros cometidos no processo o levem a caçoar dele. Admira a técnica de Gaúcho para extrair aneis e joias de pessoas adormecidas sem acordá-las, mas ressalta que, em sua nova vida, esse tipo de conhecimento não terá qualquer valor, bem como a convivência com gente como o próprio Gaúcho. A visão do seio descoberto de uma moça adormecida no andar superior leva o personagem a lembrar-se de uma mulher de seu passado por quem, aparentemente, ele se sentia atraído. É essa memória, acrescida de um ímpeto insano e momentâneo, que o fará, ao final do conto, pôr o assalto a perder, dando,