Análise de O Cortiço
Os movimentos realista e naturalista chegaram ao Brasil com relativo atraso, deixando suas marcas em nossa literatura somente a partir da década de 1880. Começaram a ser pensadas e divulgadas as doutrinas sociais que procuravam explicar o comportamento e a situação das populações de camadas menos privilegiadas que se formavam nas cidades e que cresciam em ritmo acelerado, devido ao grande surto industrial, ao mesmo tempo em que se questionavam conceitos como justiça, classe social, economia, entre outros temas. É durante essa realidade que o escritor Aluísio Azevedo redige a obra O Cortiço. Pretendendo estudar as características da vida urbana então em plena expansão, Azevedo dedica-se à observação de dois ambientes: a habitação coletiva e o sobrado, representando do baixo para o alto os extremos sociais do Rio de Janeiro do século XIX. A apresentação desses dois ambientes nasce no primeiro capítulo e vai ganhando corpo até dominar quase todas as situações. O Cortiço – representado pela linha horizontal – possui vida própria e seu colorido confunde-se com o personagem João Romão, tornando-se o ponto culminante da obra. Por outro lado, o sobrado – espelhado na linha vertical – torna-se um monumento, símbolo do ápice, ou seja, do ponto aonde se quer chegar. “João Romão observava durante o dia quais as obras em que ficava material para o dia seguinte, e à noite lá estava ele rente, mais a Bertoleza, a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. E o fato é aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão. Hoje quatro braços de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e os números de moradores”. – Capítulo I. A obra nasce do resultado de ações que