Análise de Cálice
A história tem nos mostrado, ao longo dos séculos, o quanto a palavra exerce poder. Aliada às ações de sujeitos que não se deixaram e não se deixam vencer pelo cansaço na busca por uma sociedade onde a equidade prevaleça para todos, ela ajudou a modificar vidas, provocando mudanças de atitudes, enfrentando, muitas vezes, aqueles cuja função foi, e ainda é, trabalhar em prol do emudecimento e alienação humana.
Com a palavra, é possível transformar a realidade em que se vive, saindo da situação de subjugação para a conquista da liberdade. Todavia, dependendo dos sujeitos que a detêm, ela também pode formar cordeiros serenos no lugar de agentes atuantes, impor normas que contribuem para a perpetuação do silêncio. Esta situação pode ser encontrada na música “Cálice”, composta por Chico Buarque de Holanda.
Analisando a referida composição, sob a perspectiva da semiótica textual, é possível elencar diversas oposições, a saber: sofrimento/alegria, renúncia/envolvimento, luta/acomodação, revolução/emudecimento, coerção/liberdade, força/fragilidade, direitos/privação, dentre outros.
Os sujeitos que se destacam são os seguintes: o enunciador, responsável por toda a concepção ideológica presente na composição, o qual podemos identificar como sendo o compositor; os destinadores, aqui identificados como o eu-lírico (o principal) e o grupo de vozes que fazem coro com a expressão “cale-se”, ao final da música; e por fim os destinatários, destacando a figura do pai, com o qual o destinador dialoga, e a sociedade brasileira, representada pelos ouvintes ou leitores da composição.
O tempo todo, o sujeito destinador queixa-se da situação em que está inserido, apresentando aos destinatários diversas situações carregadas de dor, sofrimento, medo, silêncio. Desse modo, podemos afirmar que o mesmo vê a realidade em que vive de forma disfórica, a qual não contribui